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9 de julho de 2010

50 ANOS DE BOSSA SEMPRE NOVA

Ela foi a trilha sonora de um momento de ebulição cultural, política e social. Mais do que uma simples mistura entre samba e jazz, uma nova batida ou um jeito diferente de cantar, a Bossa, que completa 50 anos, é e para sempre será Nova.

A batida de violão da Bossa Nova e o canto contido, hoje, nos parecem muito naturais. Mas em meados da década de 1950, nas nossas paradas musicais o que retumbava era a grandiloqüência e a dramaticidade.
Depois da gravação de Chega de Saudade por João Gilberto, em 10 de julho de 1958, o Brasil se viu perplexo diante de cantores de “voz pequena”, que versavam sobre amor, sorriso, flor, abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim. Some-se a um jeito de tocar violão diferente de tudo que havia até então. A Bossa Nova pegou de surpresa os músicos, os profissionais da indústria fonográfica,
Mas houve quem não tivesse assimilado a novidade.
Quando ouviu o compacto de João, o gerente de vendas das Lojas Assumpção, em São Paulo, achou que o cantor estava resfriado. Estraçalhou o disco na quina da mesa, berrando: “Então, é esta a merda que o Rio nos manda?”.
O veterano Sílvio Caldas sentenciou: “É uma manifestação passageira, própria dos moços que retratam o espírito de desobediência e má educação da época atual. Vai passar, porque carece da categoria que somente a autenticidade confere às coisas”.
A despeito dos prognósticos, a Bossa se estabeleceu. Capitaneada por João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, a turma ganhou espaço.
Entrou na onda até Vicente Celestino, cantor que ficou célebre por narrar as desventuras de um malfadado ébrio. Além de gravar Se Todos Fossem Iguais a Você, de Tom e Vinicius, ele soltou a voz tenor em outro clássico da Bossa, a prosaica O Pato: O pato vinha cantando alegremente / Qüém, qüém / Quando um marreco sorridente pediu / Pra entrar também no samba.
A publicidade e o jornalismo se apropriaram do termo para apelidar tudo que fosse novo ou diferente: era “presidente bossa-nova” pra lá, “Fla-Flu bossa-nova” pra cá… Até “geladeira bossa-nova” se vendia.
Neste Especial, relembramos os personagens e as histórias desse gênero musical brasileiro que tomou de assalto o País e ganhou o mundo.
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A quantas andavam Vinicius, Tom e João antes do encontro
que deu a largada para a revolução da Bossa Nova.
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Vinicius de Moraes
Já consagrado como poeta, teve um ano de vacas magras em 1951. Pra se virar, descolou um trabalho no Última Hora. Além de uma crônica diária, escrevia críticas de cinema e aconselhava leitoras no “correio sentimental”. Dois anos depois, deixou as atividades no jornal para seguir a carreira diplomática na embaixada brasileira em Paris. Foi na França que escreveu Orfeu da Conceição. De volta ao Brasil, em 1956, precisava de um compositor “moderno” para musicar a peça. O escolhido foi Antonio Carlos Jobim. Nascia assim uma das parcerias mais frutíferas da nossa música. Depois de uma bem-sucedida temporada de Orfeu, Vinicius preparava-se para voltar a Paris. Mas adiou a ida em alguns dias para escrever a letra de uma música nova de Tom…
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João Gilberto
Juazeiro, Bahia, 1948. João tinha 17 anos quando deixou os estudos de lado para se dedicar à musica. Foi para Salvador. Em 1950, foi convidado a integrar o conjunto vocal Garotos da Lua, no Rio. Mas João queria mesmo era iniciar a carreira solo. Gravou em 1952 um compacto em que soava demais como Orlando Silva, cantor romântico que admirava. O disco foi um fracasso. João gravou ainda alguns jingles, tocou em festas e espetáculos teatrais, mas estava infeliz. Sem rumo e sem dinheiro, foi acolhido pelo gaúcho Luís Telles, que o levou a Porto Alegre em 1955. Passou ainda por Diamantina, Juazeiro e Salvador. Nesse período, de forma obsessiva, desenvolveu um jeito próprio de cantar e tocar violão. De volta ao Rio em 1957, foi ao apartamento de Roberto Menescal mostrar o que havia criado. Professor de violão, Menescal teve uma epifania, assim como todos a quem apresentou João. Foi escalado por Tom Jobim para tocar violão no disco de Elizeth Cardoso…
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Tom Jobim
Ele tinha apenas 22 anos quando casou, em 1949. Tocando piano na noite carioca, garantia ao menos uns trocados para sustentar a família. Três anos depois, conseguiu um bom emprego: arranjador da gravadora Continental. O novo trabalho lhe estimulou a compor. Em 1954, escreveu com Billy Blanco Sinfonia do Rio de Janeiro – obra-prima da música brasileira, mas um fracasso de vendas. O sucesso veio mesmo com Teresa da Praia, outra parceria com Blanco, gravada em dueto por Dick Farney e Lúcio Alves. Seu nome como compositor começou a se propagar. Impressionado pela batida de violão que um certo baiano lhe mostrou em 1958, Tom tirou da gaveta uma canção que havia escrito com Vinicius. Acreditava que poderia caber como uma luva no novo ritmo criado por João….
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Apesar de histórico, Canção do Amor Demais, disco de Elizeth que contém a primeira gravação de Chega de Saudade (a tal parceria de Tom e Vinicius), mal foi notado depois de seu lançamento, em maio de 1958. O País só se deu conta de quanto a canção era revolucionária quando o próprio João a registrou em compacto, a seu modo, dois meses depois. A gravação foi conturbada: o perfeccionismo de João gerou conflitos com Tom, autor do arranjo, e a orquestra. Mas, enfim, o disco saiu. Causou um frenesi sem precedentes na nossa música popular. Entre a letra de Vinicius, a música de Tom e a voz e violão de João aflorou a Bossa Nova. E nunca mais o Brasil soou do mesmo jeito.

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Um cantinho, um… acordeão? Não fosse o violão de João Gilberto, talvez começasse assim a letra de Corcovado, de Tom Jobim. Exagero? Na década de 1950, o verdadeiro rei da sanfona chamava-se Mário Mascarenhas. Gaúcho radicado no Rio, fabricava milhares desses instrumentos e coordenava escolas espalhadas pelo País. Muitos filhos de famílias cariocas – boa parte deles a contragosto – estudaram com Mascarenhas. Entre os formandos de 1957 estavam figuras como Edu Lobo, Eumir Deodato, Francis Hime e Marcos Valle. A sanfona reinava soberana na nossa música popular. Mas os rapazes queriam mesmo era tocar o violão que ouviam em canções estrangeiras.
Antes do lançamento oficial de Chega de Saudade, em 1958, já começavam a circular timidamente na zona sul do Rio fitas de rolo com a gravação. Foi a estocada derradeira na sanfona. De sinônimo de vadiagem, o violão virou objeto de desejo e presença constante nas festinhas. Mais do que saber tocar o instrumento, o máximo era aprender aquela batida. Quem lucrou com isso foi Carlos Lyra e Roberto Menescal, sócios desde 1956 em uma escola de violão. Tom Jobim, pianista, viu-se obrigado a empunhar o pinho em suas primeiras incursões nos Estados Unidos, por exemplo.
Se, até hoje, o violão é um instrumento indissociável da música popular brasileira, a verdade é que isso muito se deve à Bossa Nova.


FONTE: ALMANAGUE BRASIL

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