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19 de fevereiro de 2013

CUTOU? – Renato Lôbo



Se havia nesse mundo coisa mais bonita de se ver era a entabulação de conversa entre Tião da Água e papai. Ah, meu Deus, aquilo, sim, valia a pena! Nunca mais encontrei entendimento maior. Horas. Horas! Ficavam ali no alpendre (já disse que Minas tem alpendre!), papai do lado de dentro, Tião do lado de fora, e o resto do mundo sem a menor noção do que se ia ali nem menor possibilidade de fazer parte daquela assembléia unificada de dois.


Aquilo era de uma beleza sem quantia!



Eram sons, gestos, expressões faciais, trejeitos da boca, palavras que não saíam, palavras remendadas... Como numa colcha de retalhos de harmoniosa cacofonia, tudo o que existe no repertório da comunicação humana cabia ali, na conversa de alpendre, entre dois seres tão diferentes e tão absolutamente iguais. É essa igualdade universal dos seres que subsiste e insiste sob a crosta invisível das relações. É essa solene igualdade universal dos seres que, vez ou outra, nos salva de nós mesmos.



Valia tudo e, no entanto, havia lei. Quando um falava, o outro escutava. E se o outro escutava, o um também escutava. E, contudo, falavam. Falavam, escutando. Ali, falava-se sem palavras, escutava-se o que não tem som, entendia-se o que não tem voz. Pra que voz? A linguagem que interagia naqueles dois, debruçados num alpendre de Minas, era maior, mais possante e verdadeira que qualquer palavra, som ou voz.



Aquilo era mesmo de uma beleza sem quantia! Só quem viu! Só quem viu...



Um dia, papai relatou o que Tião lhe havia contado. Sei lá se é verdade. Vendo pelo preço que comprei. Aliás, dou. Afinal, pra que a verdade? E o que é a verdade? (Pilatos que o diga e, se puder, explique!)



Foi assim. Edésio e Tião da Água se encontraram.



- Utê é turdo! – disse Tião pro Edésio.



- Sô surdo não! – replicou Edésio.



- É tim! – treplicou Tião.



E ficaram naquela, numa arenga sem fim.



Daí, decidiu-se pela prova dos nove. Logo achada uma porta, Tião mandou que Edésio se escondesse atrás dela. (Captou a idéia?) A prova dos nove era que um ia se esconder, o outro ia falar, e o escondido, recém saído do esconderijo, teria de provar que escutou contando o quê. Que nem criança.



Edésio escondeu-se.



Deu-se o tempo. Edésio saiu. Tião perguntou:



- Cutou?



- Cutei, cutei... – respondeu Edésio...



- Cutou nada, eu não falei!



Fala a verdade! Isso não é de uma beleza sem quantia?

7 comentários:

Anônimo disse...

Uma beleza sem quantia!
Maravilha sua memória,sua forma de expressar, que nos leva no tempo! Fantástico! Saudades de Brasópolis,de nossa época!
Fátima da Teresa Moraes

Anônimo disse...

Fátima da Teresa Morais do Joaquim do Clube! É verdade, que saudade daquela Brazópolis da nossa época! Obrigado. - Renato Lôbo

Anônimo disse...

Realmente minha querida amiga Fátima, é tão gostoso ler algo assim que nos remete ao passado e nos traz inúmeras lembranças dos momentos agradáveis que passamos em Brazópolis.
Rubinho

Anônimo disse...

Realmente minha querida amiga Fátima, é tão gostoso ler algo assim que nos remete ao passado e nos traz inúmeras lembranças dos momentos agradáveis que passamos em Brazópolis.
Rubinho

Anônimo disse...

Rubinho, que surpresa ! Um abraço enorme!
Fátima da Teresa Moraes

Anônimo disse...

Renato, que lembranças fantásticas. Parece estar vendo o colóquio dos dois,Tião da Àgua ainda está entre nós, mas o Edésio já se foi. Um grande abraço.

Anônimo disse...

Renato boa lembraça, mas acho que esta conversa foi com o irmão dele o Ted na alfaiataria do Raimundo Irmão do Japão em frente a sapataria da Neuza Vichi.Mas isto é verdade sim, CUTOU ?

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