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20 de outubro de 2010

Hoje é dia do Poeta e queremos homenagear um grande poeta brazopolense: Zezé Noronha

O POETA ZEZÉ

( Artigo publicado no jornal “ Can-Can” em 26.10.1975)

...Zezé Noronha trás em sua poesia aquela saudade e tristeza mortais que caracterizam Álvares de Azevedo e Cassemiro de Abreu:

“ Foi por ti que num sonho de ventura a flor da mocidade consumi, e às primaveras disse adeus tão cedo e na idade do amor envelheci!” (Álvares de Azevedo, em “ Saudade”) ;

“ E, como a rola que perdeu o esposo; minh’alma chora as ilusões perdidas. E no seu livro de fanado gozo, relê as folhas que já foram lidas” (Cassemiro de Abreu em “ Minha Alma é Triste”).

Continuando a mesma linha dos vates românticos, o poeta Zezé também recorda:

“ Pouco me importam os sonhos, sem o sabor da realidade; pois a ilusão é meu escudo, e vivendo dela me iludo numa sublime falsidade” ( de “Recordar”).

E, se o legado da tuberculose trouxe aos dois gênios o “mal do século”, a nota penumbrosa de uma existência insofrida, cantava em plangentes versos, não menos doridamente espalharia seu estro o poeta Zezé, tristonhamente reclinado em sua cadeira de rodas.

É verdade que antes de se pronunciar o triste mal, que lhe valeria a perda das pernas, sua poesia já era franco reflexo byroniano; depois, consumada a tragédia, acentuaram-se-lhe as notas mais melancólicas que um espírito pode conceber.

O próprio título de um seu caderno de poesias, justifica-lhe a visão sofredora do mundo: “ Desencanto e Nada Mais”.

Também, se lhe fosse dado beber toda a volúpia da natureza, e amar intensamente todas as ruas e vilas de Brazópolis, angulosas, superpostas, com seu casario antigo deixando entrever inefáveis lembranças, pois, ceifadas as possibilidades de percorrer esses sítios aprazíveis , que lhe restaria?

O homem pela própria gênese, já é um triste; _ ainda mais se o infortúnio lhe bate à porta.

O pequeno mundo de Zezé Noronha se resumia numa janela larga, aberta para a praça da Matriz : Um jardinzinho pisado pelas crianças, a igreja, casa comerciais e residências _ transeuntes e, ao fundo, a mata em seus vestígios da opulência de outrora, envergando a roupagem verde de troncos esparsos _ num silêncio de recriminação aos machados broncos; nem lhe era dado ver o crepúsculo vespertino, que no fundo não havia janelas.

Para o homem comum sua cidade é apenas uma cidade, sempre igual, não descoberta em sua vida adjacente, cuja atmosfera histórica e sentimental formam um todo indivisível.

O poeta sente esse binômio, daí a sua angústia, a sua necessidade de apalpar o coração imenso que ela oculta, e que se encontra nos jardins, nas ruas poentas, no bronze melancólico, nas noites e manhãs que se esfumam, nas personagens que lhe compõem a história.

Por isso, o poeta Zezé sofreu; quem pode, duma cadeira de rodas, abraçar todas as almas duma cidade?...

Em “Eterna Dor” espelha todo o fatalismo que o abate: O sofrimento que lhe mingua a vida. O primeiro quarteto desse soneto é pungente: “Trago a máscara da dor sempre comigo, a vida atarraxou-a em minha face, não adianta escondê-la, não consigo, mesmo tentando em vão, qualquer disfarce”.

Em “Mágoa” o ritmo do sofredor é o mesmo: “Eu trago os pés feridos e a alma cansada, e não encontrei, na vida, mais que espinho, sentindo sempre a noite enluarada, e marcando com sangue o meu caminho”.

Em “Triste”, prossegue a apostrofação dorida do poeta à vida: “Quem nasceu nessa vida pra ser triste, tem um semblante sempre amargurado; força alguma no mundo, não existe, que o faça parecer aventurado.”

Atenuando a visão acre de sua existência segue em “Viver”:

“Não levarei comigo dessa vida, a dor de ter vivido inutilmente, de quem como uma sombra desiludida, só viveu por viver, indiferente”.

E nesse trecho de “Inconformação” não é o poeta que apostrofa a própria desgraça: “ tudo aceito, sem mágoa, sem rancor, resignado com a própria dor, sem revoltar jamais com o meu sofrer.”

É que, no diapasão da tristeza, há de houver sempre um bemol, claro, insurgente contra a descrença que amortalha a alma...

A par de tanto fel destilado em verso, arrematado, às vezes, por uma ponta de esperança, vivia diferente do personagem dos seus versos, para quem a vida era uma gólgota. Apreciava as companhias e sorvia, avidamente, todos os momentos que a existência lhe destinava. Eu mesmo tivera a ousadia de mostrar-lhe uma crônica, uns versinhos, depois colocados em letra de forma, por insistência sua. Era assim, gostava duma palestra, dum bom drinque, de muitos cigarros e da noite anciã, vazada na companhia de um companheiro boêmio.

...O poeta Zezé morreu na casa dos cinqüenta, tendo ao lado a “mulher” admirável que lhe acompanhou os passos desde a juventude; toda enlevos e carinhos: A POESIA!


O ENFERMO

Com medo da noite,

Com pavor das trevas,

Ele lutou...

Lutou de minuto a minuto,

Morrendo de medo,

Entre a vida e a morte,

Na ânsia de sobreviver.

A noite era negra,

Cheia de silêncios, cheia de pavor.

Enquanto era noite, lutava.

Enquanto lutava, vivia.

De repente a aurora explodiu,

Cheia de luzes, cheia de cantos,

No esplendor da manhã.

Amanhecera

Tudo era claridade, tudo era vida.

Ele venceu!

Ele sorriu!

Ele morreu!


Este poema Zezé escreveu dias antes de morrer. Foi sua última obra.

Zezé Noronha faleceu em 24 de outubro de 1973




Um comentário:

Anônimo disse...

Foi um grande homem ,Brazópolis sentiu muito sua ida para a eternidade.

Saudades, saudades..................

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