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30 de novembro de 2010

30 anos da morte do grande Cartola

Não teve samba na Mangueira. Era 30 de novembro de 1980.

Morreu Cartola.

Em Mangueira passou quase a vida toda, fez amigos, casou, cuidou dos filhos e netos. Desde que a família saiu de Laranjeiras, o morro foi seu universo, sua inspiração.

Menino, não demorou a se ambientar à malandragem. Entregou-se ao samba. Não parava em emprego. Como ajudante de pedreiro, usando chapéu-coco para não sujar os cabelos com cimento, ganhou assim o apelido célebre. Fazia parte do grupo mais barra-pesada.

Eram bons de briga e de samba. Respeitado pelo talento com o violão e a criatividade para compor, parou com as arruaças, uniu os sambistas e criou uma escola de samba.

Chega de Demanda

Num samba, convocou:

Chega de demanda / Chega! / Com este time temos que ganhar / Somos da Estação Primeira / Salve o morro da Mangueira.

Em 28 de abril de 1928, fundaram a Mangueira. Cartola escolheu cores e nome. “Resolvi chamar de Estação Primeira porque, contando a partir da Central do Brasil, era a primeira estação de trem, onde tinha samba.”

Envolvido com assuntos da escola, levava a vida. Nada o afastou das farras, nem o casamento com Deolinda, mulher mais velha, experiente.

Compunha com tanta facilidade, que criava hoje e esquecia amanhã. Certa vez, o compositor Nelson Sargento cantou um samba lindo. Cartola quis saber de quem era. “É teu.” E para provocar: “Se me der parceria, canto mais uns dez que tu não lembra.”

A produção crescia. Cantores famosos paravam carros luxuosos no pé do morro para comprar seus sambas.

Não Quero Mais Amar a Ninguém

Período difícil. Decepciona-se com a escola. Os desfiles seguem padrões da classe média, deixando de lado as tradições enraizadas nos morros. Deolinda morre. Cartola chora em versos.

Desaparece. Chegou a ser dado como morto. Cantaram sambas “em memória”. A vida mudaria com um grande amor. Zica, cunhada do amigo e parceiro Carlos Cachaça. Passaram a viver juntos no início da década de 1950.

Em 1964, quando decidiram casar, ao dar entrada nos papéis, descobriu chamar-se Angenor de Oliveira, e não Agenor. Com ela, Cartola voltou para a Mangueira. Deprimido, bebia até duas garrafas de cachaça por dia. Quem segurava a onda era Zica, cozinhando e vendendo marmitas.

O Sol Nascerá

Certa noite, o jornalista Sérgio Porto, que assinava Stanislaw Ponte Preta, tomava café num bar em Copacabana, quando deu de cara com um lavador de carros. “O senhor não é o Cartola da Mangueira?” Ele mesmo.

Ponte Preta promoveu seu retorno. Publicou notas, levou-o a seu programa na Rádio Mayrink Veiga.

Cartola e Zica montaram restaurante, o Zicartola. Vivia abarrotado de compositores e músicos. Mal administrado, faliu.

Em 1974, aos 63 anos, Cartola grava o primeiro disco, graças ao empenho do produtor J. C. Botezelli, o Pelão. Ganhou todos os prêmios do ano e a oportunidade de assentar a vida. Shows, programas de televisão e rádio, madrugadas em estúdios, excursões.

Tempos Idos

Cartola, que mal concluiu o primário, encantava compositores como Villa-Lobos. Musicólogos derramaram-se em elogios. Diziam que Cartola era um dos maiores elos entre nosso passado lírico profundo e nossa gente mais simples.

No final dos anos 1970, descobriu que tinha câncer. Até morrer, aos 72 anos, continuou a compor e cantar. Sobre o caixão, bandeiras da Mangueira e do Fluminense. A multidão cantando As Rosas Não Falam. E o sentimento de todos expresso na frase do sambista Nelson Sargento:

“Cartola não existiu. Foi um sonho que a gente teve.”

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