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15 de julho de 2013

O Sotaque das Mineiras - Felipe Peixoto Braga Netto.


O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar lindo (das mineiras) ficou de fora?
Mineira deveria nascer com tarja preta avisando:
ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso?
Assino achando que ela me faz um favor.
Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas.
Preferem abandoná-las no meio do caminho, não dizem:
pode parar, dizem: 'pó parar'.
Não dizem: onde eu estou?, dizem: 'ôncôtô'.
Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem lingüisticamente falando, apenas de uais, trens e sôs.
Digo-lhes que não(...)
Mineiras não usam o famosíssimo 'tudo bem'.
Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra:
- 'Cê tá boa?'.
Para mim, isso é pleonasmo.
Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário.
Há outras. (...)
- 'Aqui', não vou dar conta de chegar na hora, não.
Esse 'aqui' é outro que só tem aqui(...)
Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe.
É um tal de 'bonitim', 'fechadim', e por aí vai.
Já me acostumei a ouvir:
- E aí, 'vão?'. Traduzo:
- E aí, vamos?
Não caia na besteira de esperar um 'vamos' completo de uma mineira.
Não ouvirá nunca.
Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira.
Nada pessoal.
Aqui certas regras não entram.
São barradas pelas montanhas.
Por exemplo, em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer:
- Eu preciso 'de' ir.
Onde os mineiros arrumaram esse 'de', aí no meio, é uma boa pergunta.
Só não me perguntem. Mas que ele existe, existe(...)
Aqui em Minas ninguém precisa ir a lugar nenhum.
Entendam...
Você não precisa ir, você precisa 'de' ir.
Você não precisa viajar, você precisa 'de' viajar.
Se você chamar sua filha para acompanhá-la ao supermercado, ela reclamará:
- Ah, mãe, eu preciso 'de' ir?
No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um 'tanto de coisa'.
O supermercado não estará lotado, ele terá um 'tanto de gente'(...)
Entendeu?
Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará:
- 'Ai, gente, que dó'.
É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras(...)
Para uma mineira falar que algo é muitíssimo bom vai dizer:
- 'Ô, é sem noção'.
Entendeu?
É 'sem noção!
' Só não esqueça, por favor, o 'Ô' no começo, porque sem ele não dá para dar noção do tanto que algo é sem noção,
entendeu?
Capaz...
Se você propõe algo ela diz:
- 'Capaz'!!!
Vocês já ouviram esse 'capaz'?
É lindo(...)
Já ouviu o 'nem...?
' Completo ele fica:
- Ah, 'nem' (...)
A propósito, um mineiro não pergunta:
- Você não vai?
A pergunta, mineiramente falando, seria:
- 'Cê' não anima 'de' ir?
Tão simples.
O resto do Brasil complica tudo.
É, ué, cês dão umas volta pra falar os trem(...)
O plural, então, é um problema.
Um lindo problema, mas um problema.
Sou, não nego, suspeito.
Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.
Aliás, deslizes nada.
Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão.
Se você, em conversa, falar:
- Ah, fui lá comprar umas coisas...
- 'Que' s coisa?' - ela retrucará.
O plural dá um pulo(...)
E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa,confidenciará:
- Ele pôs a culpa 'ni mim'.
A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas.
Ontem, uma senhora docemente me consolou:
'preocupa não, bobo!'.
E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras, nem se espantam.
Talvez se espantassem se ouvissem um: 'não se preocupe', ou algo assim.
A fórmula mineira é sintética.
E diz tudo.
Até o tchau, em Minas, é personalizado.
Ninguém diz tchau pura e simplesmente.
Aqui se diz: 'tchau pro cê', 'tchau pro cês'.
É útil deixar claro o destinatário do tchau.
Então neh, as mineiras são trem bão demais sô....

11 comentários:

Anônimo disse...

Fátima: a pessoa que te enviou esse ótimo texto assinou-o?????Se a resposta for positiva, acho bom rever seus conceitos de Blog, pois esse texto é de nada mais nada menos que Carlos Drumond de Andrade...É melhor o pessoal rever seus conceitos...

Fátima Noronha disse...

Eu tinha colocado o Autor como Carlos Drumnot de Andrade. Recebi um e-mail me corrigindo, dizendo que não era dele e sim de Felipe Peixoto Braga Netto. Pelo Google parece como autoria dos dois. Analisando mais profundamente, pelas gírias modernas com "sem noção/capaz" citadas no texto, não deve mesmo ser de Carlos Drumont de Andrade, pois ele morreu em 1987. Pesquisei também a relação de todas as suas crônicas e esta não conta em nenhuma relação.
Portanto, fica a dúvida. Me envie onde você encontrou a autoria para ter tanta certeza de que o texto é do Carlos Drumont de Andrade.

Anônimo disse...

Fátima Noronha está havendo um equívoco aí.Não é você que precisa rever seus conceitos e sim o autor do comentário acima.Pesquisem antes de uma crítica,seja ela positiva ou negativa.Carlos Drumond de Andrad escreveu um texto que foi adaptado aos mineiros por esse autor e que por sinal,está ótimo.

Anônimo disse...

o texto apresentado realmente não é de Carlos Drumond de Andrade, é uma releitura feita por Felipe Peixoto. O de Carlos Dromond é este:
Ser Mineiro - Carlos Drummond de Andrade
Ser Mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer,
é fingir que não sabe aquilo que sabe,
é falar pouco e escutar muito,
é passar por bobo e ser inteligente,
é vender queijos e possuir bancos.

Um bom Mineiro não laça boi com imbira,
não dá rasteira no vento,
não pisa no escuro,
não anda no molhado,
não estica conversa com estranho,
só acredita na fumaça quando vê o fogo,
só arrisca quando tem certeza,
não troca um pássaro na mão por dois voando.

Ser Mineiro é dizer "uai", é ser diferente,
é ter marca registrada,
é ter história.
Ser Mineiro é ter simplicidade e pureza,
humildade e modéstia,
coragem e bravura,
fidalguia e elegância.

Ser Mineiro é ver o nascer do Sol
e o brilhar da Lua,
é ouvir o canto dos pássaros
e o mugir do gado,
é sentir o despertar do tempo
e o amanhecer da vida.

Ser Mineiro é ser religioso e conservador,
é cultivar as letras e artes,
é ser poeta e literato,
é gostar de política e amar a liberdade,
é viver nas montanhas,
é ter vida interior,
é ser gente!

Anônimo disse...

tem tanbem este, do colunista Xico Sá:
Essa impressão eu tive desde a primeira vez. No casamento com uma delas não havia mais dúvida. Coisa findas muito mais que lindas. Mas ainda carecia de rodagem e meditação nas montanhas para escrever com mais tutano e propriedade.

Carecia de mais depuração no alambique de Salinas ou Januária. Precisava comer mais frango com quiabo na serra do Rola-moça.

Agora não há mais dúvida: há realmente algo de especial na mulher mineira. Se você pedir que eu me explique melhor sou incapaz de fazê-lo. A mineira tem um “je ne sais quoi”. E pronto.

Um não-sei-o-quê, se é que você me entende.

Você vê a mais moderna das moças de Minas, por exemplo, e, além muito além daquele repertório todo de modernidade haverá, quase sempre, um quintalzinho imaginário com uma pimenteira, uma sombra, uma pitada de arcadismo e contemplação.

Na mineira há sempre um conforto depois da fachada.

Com uma mineira você tem a sensação de gozar sob as badaladas dos sinos de Ouro Preto. E não estamos falando da sem-vergonhice da Linda Lovelace no filme “Garganta Profunda”.

Há um drama barroco, uma pedra sabão de Aleijadinho no amor com uma moça das Gerais. Você sempre acha que está cometendo algum inexplicável pecado.

Você sempre vai achar que está fazendo sexo na porta funda de uma igreja de Congonhas.

Você diz “mas não há nada de errado nisso, somos maiores, vacinados, estamos juntos, como um homem e uma mulher de qualquer canto do planeta”. Mesmo assim, diante do olhar de uma mineira, ira permanecer a sensação pecaminosa.

Quer algo mais incrível do que ser devolvido à condição de pecador? Não tem dinheiro que pague. É a inversão do teorema de Dostoievski: se Deus está vivo, tudo é proibido.

Você pode praticar todas as safadezas do mundo, mas com uma mineira você tem a nítida sensação de estar fazendo sexo. A bíblica conjunção carnal de fato. Não apenas sacanagem. Isso é outra coisa.

A mineira nos faz recuperar a bela culpa que torna o sexo mais gostoso. Uma transa qualquer sem uma demão de culpa ainda não pode ser considerado sexo.

Só há sexo em Minas Gerais. No resto do Brasil é sacanagem.

Você há de contestar, amigo, dizer que sou um reducionista. Um esmagador de clichês sobre a mineiridade etc etc.

Insisto. Com uma mineira é diferente. Há algo que faz da prosódia um doce de leite de Senador Firmino.


Anônimo disse...

mais este, de Brunno Leal:
Os encantos da mulher mineira




Casamento pra mim, nesse momento, é algo tão distante quanto ganhar na Mega-Sena. E por duas vezes. De certeza, apenas uma: Casarei com uma mineira.

Deus exagerou ao criar as mineiras à sua imagem e semelhança. Dobrou a dose. Ainda tenho lá as minhas dúvidas se são realmente humanas ou se são anjos, com intuito de nos levar pra junto delas, lá no céu. Não à toa Deus as encravou em Minas Gerais, cercadas por montanhas pra dificultar o acesso de qualquer um. Mas sou capaz de desbravar quantos Everests forem necessários pra estar ao lado delas.

A mineira extravasa amor em amplitude. Só podem ter estudado em colégios diferentes dos que conheço... Não aprenderam a ser mal educadas. Desconhecem do mal humor. A mineira sempre me recebe com um sorriso, e o sorriso de uma mineira é o arco-íris do meu domingo, o calabouço das minhas tristezas. Elas sorriem com os olhos, com a testa, ao mesmo momento que dão uma ajeitadinha no cabelo e deixam transparecer um jeitinho tão tímido que contrasta com todo aquele amor despejado já nos primeiros momentos. Como se ainda não fosse suficiente, nos perguntam da maneira mais doce do mundo: "Cê tá jóia?".

E a maneira como elas falam? A mineira não fala. Ela canta. Canções de amor, baixinho, no pé do ouvido. A mineira quando fala, me pega no colo. E eu faço corpo mole, deixo levar. Sou capaz de ser o mais compreensivo e atento ouvinte de uma mineira, só pra admirar o jeito charmoso como diminuem as palavras.

A mineira nasceu pra ser cortejada. Cortejada de amor, porque nos despejam todo esse amor sem mesmo saberem. Elas são altruístas. Nos dão carinho tão despretenciosamente quanto criança que planta pé-de-feijão em algodão. Nos oferecem extremado afeto de maneira tão simples como ajeitam uma flor nos cabelos. A mineira só pode ter nascido com dose extra de amor... porque todo o simples e irreparável é gritante e inexplicavelmente charmoso quando nelas. São donas de ternuras delicadas, por vezes inintendível, mas inerentes à sua beleza, aquela beleza sabida de que a natureza foi a sua melhor amiga.

Há quem diga que sejam ciumentas. Eu quero. Quero a mineira mais ciumenta desse mundo. Porque ciúme é amor demais. Só tem ciúme quem quer guardar, quem deseja levar pro resto da vida. Quero a mais ciumenta até meus últimos dias.

No amor, a mineira é princesa. Não dão asas à nossa imaginação, elas próprias nos levam juntos pra voar. São donas de si, decididas. Não escondem amor. A mineira ama com autonomia. Ama sem pressa porque deseja intensidade. Antes, beija com o nariz. Beija através do olhar. Beija com todo o tempero mineiro. Beija devagar e bonito, numa espécie de feitiço. Beija carregada de ternura.

O sorriso de uma mineira já é motivo de alegria. Choro junto se a vir chorar. A mulher mineira nunca será definida por adjetivos; estes serão sempre pleonasmo.

Quero me sentir mais próximo de Deus e receber amor em exagero. Quero uma mineira pra toda a minha vida.

Anônimo disse...

De Priscila Cunha:
Crônica sobre mineiras: é ilegal, imoral, engorda ou todas as alternativas acima?
Circula, na internet, uma crônica de Felipe Peixoto Braga Netto, com o título: Sotaque mineiro: é ilegal, imoral ou engorda? .Nela, o advogado, caracteriza o sotaque mineiro realçando a incoerência da fala com a norma culta padrão.
Uma boa crônica, sem dúvida nenhuma, mas lendo, eu tive a exata mesma dúvida: se tudo que é bom tem um desses 3 atributos,isso aqui, para nós mineiras, é ilegal, imoral ou engorda? Desconfio de que seja um pouco disso tudo. Observe como a intenção do autor fica confusa em alguns trechos:

"(...)Na verdade, o mineiro é o baiano lingüístico. A preguiça chegou aqui e armou rede. O mineiro não pronuncia uma palavra completa nem com uma arma apontada para a cabeça.(...)Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira.Nada pessoal.(...)Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas.(...) A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas.(...)Eu sei, eu sei, a gramática não tolera esses abusos mineiros de conjugação.(...)Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão.(...)"

A intenção não era exaltar as mineiras? Depois de ler o escrito acima, me responda se concorda com este trecho: "É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras..." Sinceramente, é provável que o leitor continue a achar que os mineiros vivem na roça, não sabem nada de gramática e que as mineiras, principalmente, são burras até doer!
Não nego que a fala mineira tenha suas peculiaridades. Mas ao falar dela, é preciso ter muito cuidado para não realçar preconceitos. A linguagem oral é totalmente diferente da língua culta padrão e só "intelectualóides" é quem não sabem disso. Acredito que o autor só queria realçar o seu amor pelo sotaque mineiro, mas não podemos confundir "fala" e "língua". Aqui, em Minas, existe uma língua portuguesa sim, mas a "fala" é diferente, como em qualquer outro lugar, por causa do sotaque.
EU, ASSIM COMO O AUTOR, AMO O SOTAQUE MINEIRO.
Falando em confusões entre língua e fala, vamos falar...

Dquele professor de português da mesa do bar...

Detesto pessoas que corrigem erros de português enquanto a outra está falando. Se é homem, então, mais ainda. É o mesmo que dizer: "eu sei duas regras de gramática, então, meu pênis é o maior aqui da roda!" Advogado é quem tem mania de tentar usar a norma culta padrão como oral. E o resultado é desastroso. O mesmo que usar terno e bermuda juntos. Metade da frase sai correta, metade sai terrivelmente errada, se for considerar a gramática.
Eu desafio os "Srs. Eu Falo Corretamente" a falar de acordo com a norma culta padrão. Duvido que vão se lembrar de empregar ênclise, próclise e mesóclise corretamente por mais de 1 minuto!
Não digo que as pessoas devam falar de qualquer jeito. Mas penso, principalmente, na eficácia de uma comunicação e isso, meus amigos, é pensar na ADEQUAÇÃO da frase. Se a situação é informal, -principalmente, entre amigos- não há a menor exigência de empregar a norma culta. Aliás, nem tente porque vai dar errado!
E se você tem aquele amigo que adora corrigir seus erros de português na frente de todo mundo, peça o currículo dele. Ele tem, obrigatoriamente, de ser, no mínimo, ilustre. Pense no presidente da república. Você usaria a norma culta para falar com ele? Normalmente, sim. Mas, em se tratando do nosso presidente, seria até inadequado. Então, caros amigos, se a gente não precisa da gramática para falar com o presidente, vai precisar pra falar com amigos, numa mesa de bar? Pode ser o amigo que for, vai precisar comer muito angu (e mais muita gramática) pra exigir norma culta de alguém durante a fala, numa situação informal. Corrigir é uma forma dele se impor sobre as pessoas. De mostrar uma pseudo - superioridade, de se auto-afirmar perante os outros. E isso, coleguinhas, é a psicologia que resolve e não, a gramática.

Anônimo disse...

mais uma prova:
Alguem me encaminhou este texto pela internet. Eu o guardei porque sabia que algum dia seria útil. Como agora, claro!

“Felipe Peixoto Braga Netto (1973), afirma que não é jornalista, não é publicitário, nunca publicou crônicas ou contos, não é, enfim, literariamente falando, muita coisa, segundo suas próprias palavras.
Alagoano, mora em Belo Horizonte e ama Minas Gerais.
Ele diz que nunca publicou nada, mas a crônica abaixo foi extraída do livro dele, “As coisas simpáticas da vida”, publicada pela Landy Editora, São Paulo (SP) - 2005, pág. 82.

O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar...
Afinal, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo das moças de Minas ficou de fora?
Porque, Deus, que sotaque!
Mineira devia nascer com tarja preta avisando: 'ouvi-la faz mal a saúde'.
Se uma mineira, falando mansinho,me pedir para assinar um contrato, doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: 'só isso?'.
Assino, achando que ela me faz um favor...

Eu sou suspeitíssimo.
Confesso: esse sotaque me desarma.
Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque.

Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas.
Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho.
Não dizem: pode parar, dizem: 'pó parar'
Não dizem: onde eu estou?, dizem: 'onde queu tô.'
Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - linguisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs.

Digo-lhes que não.
Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade.
Fala que ele é bom de serviço.
Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô.
Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de serviço.
Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem.
Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: 'cê tá boa?'.
Para mim, isso é pleonasmo.
Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário...

Há outras.
Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada.
Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: - Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc).
O verbo 'mexer', para os mineiros, tem os mais amplos significados.
Quer dizer, por exemplo, trabalhar.
Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido.
Só querem saber o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir.
Aqui ninguém consegue nada.
Você não dá conta.
Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz: '- Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô.'

Esse 'aqui' é outra delícia que só tem aqui.
É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase.
É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer 'olá, me escutem, por favor'.
É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.

Mineiras não dizem 'apaixonado por'.
Dizem, sabe-se lá por que, 'apaixonado com'.
Soa engraçado aos ouvidos forasteiros.
Ouve-se a toda hora: 'Ah, eu apaixonei com ele...'
Ou: 'sou doida com ele' (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro).

Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira.
Nada pessoal
Aqui certas regras não entram.
São barradas pelas montanhas.

Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer: - 'Eu preciso de ir..'
Onde os mineiros arrumaram esse 'de', aí no meio, é uma boa pergunta...
Só não me perguntem!
Mas que ele existe, existe.
Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório.

(...)

do blog NOVAS PENSATAS, de JORGE MOREIRA-SOCIÓLOGO GRADUADO NA UFBa, PÓS GRADUADO EM SOCIOLOGIA NO MÉXICO,PROFESSOR UNIVERSITÁRIO EM WISCONSIN E PUBLICA ARTIGOS EM JORNAL ESPANHOL

Anônimo disse...

Fatima, como vem vc esta certa, não de confiança aos desinformados, só querem criticar. Abraços

Anônimo disse...

Eu sou mineira e me sinto lisonjeada :)

Anônimo disse...

AMEI ATRAVÉZ DE UM TEXTO APARECERAM OUTROS QUE EU NEM SABIA DA EXISTENCIA PERFEITO BEM MINEIRO KKKK SE JUNTANDO

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