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1 de dezembro de 2015

CARTAS AO PAPA - Renato Lobo



Querido Francisco,

Você tem a mesma idade do meu pai. E é admirável como vocês dois sobem e descem morros: ele, no sítio dele, você, no seu – ao redor do mundo. É admirável como vocês dois envelheceram articulados nas ideias que defendem e na argumentação que apresentam. Seus olhos riem quando a boca ri. Isso é um bom sinal: vocês são verdadeiros. A verdade não envelhece nem perde a capacidade de rir.

Curiosamente, meu pai tem o mesmo nome de seu antecessor. Para o bem do mundo e o meu, nenhum de vocês dois capitularam diante das exigências de mudanças, não copiaram repertórios desusados nem vestiram pensamentos de brechó. Ufa!

Mas, Francisco, ando percebendo você cansado. E me pego pensando que, nem se você nascesse de novo, e papa, desde o primeiro choro, nem assim, haveria tempo para tudo o que você pretende, e para o qual o teatro da História só lhe reservou as últimas cenas. Deus queira – aliás, o maior interessado deveria ser ele! – que você ainda roube muitas cenas dessa peça. Desejo-lhe tempo.

Mas quanto? E quanto seria necessário?

Você carrega o fardo e a culpa dos sobreviventes. Cada um deles se pergunta, por que eu e não o outro? A instituição que você representa também é sobrevivente, e se apega a si mesma como causa e raiz de sua própria manutenção. Isso faz dela uma refém dos poderosos, solitária num mundo solitário, falando sozinha, distribuindo o que não tem a quem não quer.

Imagino sua solidão!

Você se meteu na enrascada de reformar uma casa muito velha. O terreno é bom, aproveite, dá pra construir edifício sólido. Novo. Mas, esse, olhe, até que o material não era dos piores. Os engenheiros é que calcularam mal, andaram trocando material bom por outro, bem inferior. Você sabe o risco que corre de emendar tecido novo em roupa velha, não sabe? Pois é, eu sei, é o tempo. Como ele é cruel. Falta tempo. Às vezes, sinto que me falta, também.

Há tanto por ser reescrito!

Chama a atenção o quase nulo interesse dos seus teólogos pelos condicionamentos históricos e determinantes políticos sob os quais foram elaborados os dogmas que você tem de defender. Os mais importantes foram redigidos em concílios convocados e presididos pela gente do poder. O problema não é o que eles dizem, mas o que eles omitem. Se levarmos em conta que bispos e papas foram privilegiados com benefícios legais, sociais e econômicos, e que aquela igreja passou, em questão de anos, da condição de perseguida para a de privilegiada, não é difícil fazer ideia da influência que os poderosos, seus critérios e suas preferências tiveram na hora de definir, exatamente, o quê aquela igreja iria acreditar.

Seja o que tenha ocorrido, naqueles tempos, o fato é que a verdade cristã foi redigida de forma a que os grandes do mundo não se sentissem mais incomodados com ela. Fazer a definição de quem foi Jesus coincidir com ideias e interesses do poder político-econômico, não pode dar no mesmo que fazê-la coincidir com as ideias e interesses do povo simples, submetido e espoliado pelo mesmo poder.

Não dá a impressão de que o dogma cristão nasceu para beneficiar magnatas e notáveis, os que mandavam e oprimiam? Não será por isso que as primeiras elaborações apareceram em categorias metafísicas e não em categorias históricas? Definir que o Nazareno da Galileia era um prosopon homoousios tou Patrou não fez grande diferença na vida das pessoas comuns. Mas saber que ele terminou como um subversivo da ordem, num suplício que tinha a finalidade específica de lhe arrancar a honra e a dignidade, não deixava de ser perigoso. Não é?

Querido papa, ensine sua igreja a ler os sinais dos tempos. A História não envelhece, porque vive se repetindo.

Mesmo no meio de todo mundo, Imagino sua solidão.

Posso continuar escrevendo?

Sempre seu.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cada pergunta vale um silêncio... Uma coisa que eu noto, e que não está relacionada ao texto: todo mundo gosta de elogiar a simplicidade desse Papa Francisco... mas desde de que seja nele... (pra mim, não... 'tô fora... rsrsrs)

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